Por Danyllo Gomes
Dentro do Novo Testamento (NT) é fato que temos vários escritores.
Evangelhos, cartas gerais e cartas paulinas são os livros que temos
no cânon do NT. Entretanto há a dúvida de alguns escritores. Em
particular, neste texto irei tentar abordar a respeito do apóstolo
Paulo de Tarso. Dentre todos os escritores do NT ele é o que mais se
destaca, tanto por quantidade, quanto por assuntos abordados. Podemos
atribuir ao apóstolo, aproximadamente 60% a 70% do cânon do NT.
Unidade
do NT
Dentro do NT temos vários assuntos de diferentes tipos colocados de
diferentes formas. Há pessoas que argumentam a respeito disso
dizendo que o fato do NT ter tanta variedade de assuntos faz disso
ele (NT) de contraditório. Porém, essas pessoas antes de tudo
utilizam o pressuposto errado para analisar a Bíblia. Eles não
acreditam na inspiração divina. Portanto, nós que cremos que a
Bíblia é tanto humana quanto divina, cremos que todo o NT tem suas
diferenças, mas em vez disso torná-lo contraditório torna-o
completo e diverso. Não é por que a Bíblia trata de assuntos
diverso que ela tornar-se-á contraditória, não é? Portanto,
partindo do pressuposto do tota scriptura
analisaremos o NT como um texto inspirado e completo.
Quais
as cartas de Paulo?
Antes
de sabermos o que analisar precisamos decidir o que analisar. Será
que é confiável? Ou não? Essas são as perguntas que fazemos
quando vamos estudar a respeito de qualquer outro texto. E isso não
é diferente com as Escrituras. Se vamos analisar a Teologia Paulina
precisamos saber se a fonte desta teologia é confiável. Se foi o
próprio Paulo que escreveu, ou não? Essas são questões que vamos
tentar tratar neste ponto.
Há
um nome ao qual podemos definir o corpo de 13 cartas que são
atribuídas ao apóstolo Paulo: corpus
paulinus.
Depois
do séc. XVII alguns teólogos começaram a questionar a autoria de
algumas dessas cartas que eram atribuídas a Paulo. Alguns deles
acreditam que foram escritas por admiradores,
outros por imitadores, e por aí vai. Algumas
cartas ficaram fora da discussão, elas são: 1º e 2º Coríntios,
Romanos e Gálatas.
Alguns
dos pontos levantados para questionar a autoria paulina das cartas ou
não são: diferença de vocabulário, diferença de temas
teológicos, estilo diferente, eclesiologia muito elaborada para o
primeiro século. O Dr. Augustus Nicodemus argumenta da seguinte
forma: “se nos lembrarmos que Paulo escreveu ao longo de 15 anos,
que usou amanuenses, que suas cartas tratam de diferentes assuntos
levantados por diferentes situações e diferentes igrejas, e que a
eclesiologia do primeiro século já era bem elaborada...”, se nos
lembrarmos disso conseguiremos entender as cartas paulinas sem
precisar abrir mão do pressuposto da inspiração do cânon do Novo
Testamento.
Qual a fonte da teologia de Paulo?
De
onde vieram as ideias de Paulo? Há alguns temas na teologia de Paulo
que só aparecem em sua carta, de onde ele tirou? Por que cultura ele
foi influenciado?
A
verdade é que Paulo foi criado em três mundos: hebraico, judeu e
grego. Ele
foi criado e educado como judeu na cultura hebraica; viveu no mundo
grego, na cultura, religião; e pertencia ao mundo romano, o qual era
cidadão. Portanto, a partir desse pano de fundo dá pra perceber que
Paulo além de ser um homem bastante estudado, também era bastante
“rodado”, ou seja, já havia passado por várias culturas e
sofria influencia de todos os lados.
Antes
vamos tentar entender como era o judaísmo na sua época. O judaísmo
era dividido em duas partes: o da Dispersão e o da Palestina. Os
judeus da dispersão não eram tão rigorosos, pois estavam longe do
templo, sempre entre gentios e foi muito influenciado pelo helenismo;
porém, apesar de tudo, mantinham-se fieis as principais instituições
judaicas. Já
o judaísmo da Palestina era considerado mais rigoroso por causa do
templo, não sofriam influencia do helenismo e nem dos gentios, tinha
a presença das seitas da época (fariseus e escribas), porém
não podemos fazer uma grande diferença entre os dois judaísmos.
O
fato é que Paulo era um judeu da Dispersão, foi criado em Tarso com
uma educação rabínica de primeira qualidade. Ele foi ensinado aos
pés de Gamalieu, um dos maiores estudiosos do judaísmo. Portanto,
precisamos observar que a mente de Paulo era bastante influenciada
pelo Judaísmo.
Com
o passar do tempo, várias discussões acerca do “pano de fundo”
de Paulo entraram em cena. Alguns acreditavam que o pensamento de
Paulo era basicamente grego, bastante influenciado pelo dualismo
grego entre o bem e o mal e as ideias do neoplatonismo dessa época.
Outros acreditavam que Paulo era um gnóstico, e que algumas das suas
doutrinas, como, por exemplo, a união com Cristo, foram emprestadas
das religiões de mistério (religiões pagãs da época). Portanto,
quando se estuda Paulo com esse “pano de fundo” eles procuram
paralelos com influencias as quais eles acreditavam que Paulo sofria.
Entretanto,
a fonte real do pensamento de Paulo era o Judaísmo. Por ter sido
criado toda a vida no judaísmo da Dispersão, ter morado em locais
onde sempre tinha sinagogas, nota-se que Paulo realmente era um
judeu. Sua
fervente perseguição contra os judeus mostra isso. A
conclusão que tiramos é que o pensamento de Paulo estava embasado
no Antigo Testamento, a fonte de literatura judaica, a qual ele
seguia e acreditava.
Além
da influência do Antigo Testamento não podemos deixar de citar os
ensinamentos de Jesus como fonte para a teologia de Paulo também. Em
1 Coríntios 11:23 vemos que Paulo diz que recebeu alguns
ensinamentos do Senhor através de cristãos. E
também houve a influencia do ensino da igreja apostólica. Em
1 Coríntios 15:3-4 vemos Paulo afirmando que ele “recebeu” os
pontos fundamentais da fé. Esse 'receber' significa que através de
ensinamentos, através da tradição oral dos apóstolos pelos
cristãos, os ensinamentos chegaram até Paulo e ele os conheceu.
Com
isso, fica a conclusão que devemos entender a teologia de Paulo de
acordo com: as Escrituras do Antigo Testamento, os ensinos de Jesus e
os ensinos da igreja apostólica. Esses são o três principais
pilares que se baseiam a teologia do apóstolo Paulo.
Paulo mudou sua teologia com os anos?
Precisamos
ter em mente que Paulo era inspirado por Deus quando escrevia suas
cartas; por outro lado também sabemos que ele é humano, portanto
ele está sujeito às normalidades da vida humana, como, por exemplo,
crescimento intelectual e físico. Como
de costume, muitas pessoas mudam suas ideias com o tempo. A pergunta
que surge é: será que Paulo mudou seu pensamento com o tempo? A
primeira carta que Paulo escreveu não condiz com sua ultima? Ele
mudou sua teologia?
Alguns
teólogos acreditam que não podemos falar de uma teologia paulina,
mas sim de várias. Eles afirmam que o corpo das cartas de Paulo não
se unem, pois são pensamentos diferentes em épocas diferentes.
Portanto
suas cartas não refletem um pensamento só, coerente e maduro, mas
que tem ideias contraditórias.
Ao
mesmo tempo que tem se instalado esse tipo de pensamento no meio
teológico do cristianismo, do outro lado temos teólogos
conservadores defendendo a posição histórica de que: “Não! Não
podemos falar de várias teologias de Paulo, mas sim de uma. Paulo é
inspirado
por Deus, portanto a Bíblia não contém contradições.” O
Dr. Augustus Nicodemus coloca da seguinte forma: “...as supostas
contradições apontadas podem e tem sido explicadas como diferentes
ênfases motivadas pelo caráter circunstancial das cartas. Por
exemplo, a aparente contradição entre uma atitude crítica do
apóstolo para com a Lei de Moisés em Gálatas e sua atitude mais
amena e branda em Romanos explica-se levando-se em conta a situação
em que Paulo escreveu Gálatas – missionários judaizantes querendo
obrigar os crentes gentios a guardarem a lei de Moisés para serem
salvos - e a situação e propósito da carta aos Romanos – dar
uma explicação mais detalhada do Evangelho que ele pregava. Esta
explicação é muito mais coerente do que a hipótese de que Paulo
teria sido repreendido por Tiago após ter escrito Gálatas e então
modificou se pensamento em Romanos, como defendem alguns.”
Podemos
observar que o não falta explicações coerentes contra essas que
estão sendo levantadas contra uma teologia unificada do apóstolo.
Não só essa que o Dr. Augustus Nicodemus observa, mas muito mais. É
fato que Paulo mudou seu pensamento com o tempo, mas esse pensamento
não influenciou necessariamente numa mudança de teologia, mas sim
de acréscimo. Paulo não mudou sua teologia com o tempo, apenas
acrescentou mais conhecimento a ela. Então
esse crescimento gradual de conhecimento não implica,
necessariamente, numa contradição no pensamento do apóstolo.
Soli Deo Gloria.