História do pensamento Cristão, ou pensamento teológico, ou do dogma se dedica a estudar a progressão e os debates das principais doutrinas do cristianismo. Geralmente está ligada a história da Igreja. Dentre tantos problemas enfrentados, um deles é o fato de pessoas não acreditarem que precisamos da história para conseguir entender algumas coisas do cristianismo, o que geralmente é conhecido como a “piedosa arrogância”; para essas pessoas não precisamos nos dedicar a aprender história. Mas devemos ter em mente que precisamos da igreja como um todo para interpretar corretamente a Bíblia. Ninguém tem uma verdade absoluta. A autenticidade da pregação do pastor deve ser “aprovada” por seus membros.
Muito comum nos nossos dias é o surgimento de “novas doutrinas”, porém não sabemos nós que essas “novas doutrinas” são na realidade antigas, e já foram refutadas. Por esse e mais tantos outros motivos é importante que nós estudemos a história do cristianismo e principalmente o desenrolar das doutrinas.
BÍBLIA NA HISTÓRIA (2 Timóteo 3:14-17)
O texto que o Prof. Franklin Ferreira usa como base para expor a história da Bíblia foi bem interessante. Paulo falando a Timóteo que ele deve permanecer no que ele aprendeu das Sagradas Letras. E Paulo, no fim, dá o motivo a Timóteo do porque ele deve permanecer; que é porque a Escritura é divinamente inspirada. Mas como autenticar a Escritura? Como ela veio a ser o que é?
Todos os que vieram depois dos apóstolos citaram grande parte dos textos do novo testamento, e desde o começo da história cristã eles já deixaram claro que toda a Bíblia foi soprada pelo Espírito Santo e inspirada por Deus, ela era suprema. A igreja sofreu dois movimentos que atacaram a Bíblia que surgiram de dentro dela mesmo, eles são:
Montanismo: acreditavam que os ensinamentos de Montanus (sacerdote de Cibele) estavam acima dos ensinamentos da Igreja, porque ele foi diretamente inspirado pelo Espírito Santo. Se autodenominava pneumático, pois considerava a si mesmo um instrumento do Espírito Santo prometido por Cristo e precursor de uma nova era. Suas principais doutrinas eram a afirmação da volta iminente de Cristo na Frígia (sua cidade natal); também afirmavam a continuidade dos dons extraordinários, como falar em línguas e profecias.
Marcionismo: acreditavam em dois deuses distintos na Bíblia. O Deus do Antigo Testamento era uma Deus mau e irado, e o Novo Testamento apresentava um Deus de amor que envia o seu filho para salvar a humanidade. Por aderir esses pensamentos, Marcião abandonou todo o A.T. e os textos que discordavam dele do N.T. Normalmente os textos excluídos eram textos que faziam referencia ao benefício do judaísmo e textos que afirmavam a ressurreição corpórea de Cristo, assim como as passagens que falavam da infância de Cristo. Ele selecionou 10 cartas de Paulo e as considerou como os livros inspirados, o resto não era autoridade.
Dessa forma atacaram a autoridade das Escrituras com bastante força afirmando que existe uma maior autoridade que ela.
Em resposta a essas acusações contra as Escrituras a igreja enfatiza a suprema autoridade das Escrituras diante de qualquer outra revelação. O Pai da Igreja Irineu de Lião derruba as acusações do gnosticismo no seu livro Contra as Heresias e, a partir daí, o gnosticismo perde força nas suas acusações contra o cristianismo.
Essa época (séc. IV e V) foi feita a formação do cânon. Alguns fatos importantes aconteceram na época:
· O catolicismo muda a visão de Irineu sobre o cânon. Para Irineu, tanto a tradição (é um resumo daquilo que é mais importante na Bíblia) quanto a Bíblia são publicas, ou seja, qualquer pessoa pode ter acesso. Na idade média, os católicos continuam com o argumento de Irineu, acreditando que a Bíblia trabalha junto com a tradição, mas para a Igreja Católica, a tradição não é mais um resumo da Escritura, mas a tradição oral que é um patrimônio da Igreja, e é tão autoritária quanto as Escrituras. Dessa forma a tradição da Igreja se torna uma autoridade tanto quanto a Bíblia, e na prática a tradição se torna até mais forte. A interpretação da Bíblia depende da tradição, e aqui entra o erro do exclusivismo.
· Há uma mudança na interpretação da Bíblia, e isso levou a igreja católica a acreditar que não tinha como um pecador popular ler e aprender a Bíblia, para isso era necessário um Bispo. Somente a interpretação do Bispo é correta, mesmo se for contra a própria palavra.
Dentre todas as discursões da época, a que mais se destacou foi a formação do cânon. O principal problema era saber quais os livros do novo testamento que eram inspirados; eles aceitavam o antigo testamento por completo sem problema. Aí surge a necessidade de Concílios. Os concílios faziam a distinção entre livros inspirados (que são a fundação da igreja), e livros que não são inspirados (que pode ser usado para o crescimento espiritual do indivíduo). Os critérios utilizados para a definição dos livros são:
· Apostolicidade. Quem escreveu tem que ser ligado de alguma forma aos apóstolos.
· Autoridade do livro. Tem que ser reconhecido pela Igreja.
· Harmonia
Na idade média, mesmo com todo o problema herege da Igreja Católica, existiam homens levantados por Deus que continuavam na fé correta. John Hus e John Wiclef, preservados por Deus, tinham a consciência de que deveriam traduzir a Bíblia para a língua comum do povo. A Bíblia não era propriedade exclusiva da Igreja, como diziam os católicos; todos não só podiam, mas precisavam ter acesso a ela para o crescimento espiritual de cada um. Todo esse movimento de tradução da Bíblia explode na reforma. Todas essas ideias tem nos levam ao seguinte resultado:
· Na reforma há uma nova interpretação. Os reformadores acreditavam que Deus tinha inspirado cada palavra, cada ponto que a Bíblia tinha. Desse modo, afirmava que o método correto de interpretação é o histórico gramatical crítico, pois essa é a forma que podemos observar cada palavra da Bíblia de acordo com seu significado, seu contexto cultural e gramatical.
Depois de todas essas ocorrências, surge então a teologia liberal, que afirma que não é mais possível entendermos a Bíblia logicamente. A Bíblia então passa a ser apenas um amuleto, um local onde Deus fala, mas o que ele fala ali pode não fazer tanto sentido então passamos para a alegoria para tentarmos entender.
Deus não vai julgar-nos segundo nossos conceitos, mas segundo a sua palavra. Importante então buscarmos saber o que o Senhor nos diz na sua palavra para que possamos está servindo-o do modo correto. Sola Scriptura!
DOUTRINA DE DEUS (João 1:1-5,18)
A igreja sempre acreditou na trindade, até antes mesmo do concílio de Nicéia. Portanto a igreja já acreditava que Deus se revela em três pessoas distintas e também cria que cada pessoa da divindade é igualmente eterno e igualmente Deus. Esse fato é provado no batismo. A igreja sempre acreditou, mas nunca aprofundou com intuito de entender. Por isso, várias heresias com relação à trindade começaram a surgir dentro da igreja, entre são:
· Docetismo - acreditavam que Jesus não veio em carne, Ele era um ser desencarnado. Diziam que ele aparentava ser humano, mas na verdade não era. Tinham uma a intenção de preservar a divindade absoluta de Jesus Cristo, mas obviamente se desviaram da verdade. Eles comprometiam a realidade da humanidade de Cristo.
· Sabelianismo - ensinavam que havia uma única pessoa (Deus Pai), e que se manifestava em três formas: Pai, Filho e Espírito Santo. Há tipo que uma transformação do próprio Pai. No Antigo testamento tem uma revelação do Pai, nos evangelho têm-se o Filho, e em Atos e depois é a revelação do Espírito Santo, porém, isso não quer dizer que existem três pessoas em Deus. O mesmo Deus assume papéis diferentes na história da salvação. Ensinavam que Deus se transforma diante a história.
· Modalismo - é uma heresia parecida com o Sabelianismo. Acreditavam que Deus, algumas vezes, se apresenta na forma do Pai; outras vezes na forma do Filho; e outras na forma do Espírito Santo. Ele veste como que "máscaras", mas não há uma distinção entre as pessoas.
· Arianismo - ensina que há uma distinção entre o Pai, o Filho e as criaturas. O pai criou todas as coisas, Ele criou o Filho como a mais exaltada criatura, e todo o resto são criados por meio do Filho. Na sua encarnação ele é honrado com o título Deus, e por meio da Sua ressurreição também. E é nessa posição que a Igreja ver que é necessário "criar uma fronteira" entre a verdade e o erro sobre a trindade; essa heresia irá desencadear no Concílio de Nicéia.
Em respostas a essas heresias, um homem chamado Atanásio consegue responder a altura desses erros. Para Atanásio esses erros incluíam a doutrina do culto e a da salvação. Se não estamos adorando o Deus verdadeiro estamos quebrando o primeiro mandamento; e por outro lado se o nosso salvador não é Deus, então como poderemos ser salvos?
O credo de Nicéia é formado na Turquia, escrito por um grupo de bispos, e é o documento que vai criar as fronteiras da doutrina da trindade. Importante termos em mente que a doutrina da trindade é um mistério. Nossa mente é limitada, e por isso não é possível entendermos perfeitamente esse mistério; mas não entendermos não significa que ele não seja verdade. O importante não é entendermos, o importante é não passarmos da linguagem bíblica, e a linguagem bíblica a respeito da trindade é misteriosa. Então, antes de qualquer coisa, devemos ter na consciência que somos limitados.
Os Pais da Igreja confessaram que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. E isso é bíblico. E ao mesmo tempo, eles entenderam que o Filho não é o Pai e nem se confunde com Ele (diferente dos modalistas), são pessoas distintas; e ao mesmo tempo o Pai não é o Espírito Santo, assim como o Filho também não é o Espírito Santo. Cada pessoa da trindade partilha dos atributos divinos. As distinções não são FUNCIONAIS, não são baseadas em trabalho; as palavras (Pai, Filho e Espírito) é simplesmente para tentarmos entender que sempre houve relacionamento desde a eternidade dentro do próprio Deus. Ele sempre existiu como Pai, Filho e Espírito Santo.
Agostinho acredita que nós somos criados à imagem de Deus, então ele afirma que nós podemos achar em nós mesmos vestígios da trindade. Ele afirma o seguinte: Deus é amor, e cada pessoa da trindade doa amor e recebe amor. Depois ele olha pra si mesmo, como uma reflexão psicológica ele fala do amor, do que ama, e do objeto do amor (o ente amado). Outro exemplo é a memória, intelecto e vontade. Nós armazenamos dados na nossa mente (memória), relacionamos esses dados (intelecto) e esses dados relacionados nos impulsionam à vontade.
Isso tudo nos leva a questões práticas. Alguns pontos que influenciam são:
· Oração
· Salvação
· Igreja
· O fim da igreja não é evangelizar, não é ensinar, não é brincar de ação social (substituindo o estado), apesar de tudo isso ser ordenado o fim principal da igreja é o CULTO.
DOUTRINA DA GRAÇA
A princípio, a doutrina da graça não foi um dos temas centrais dos debates no início do cristianismo. Os temas centrais foram sobre as Escrituras (sua canonicidade, autoridade) e a trindade. A igreja, no início tinha uma postura extremamente ambígua, e, às vezes, até complicada sobre a doutrina da graça. Algumas vezes escritores cristãos são "calvinistas", pois eles falam da divina eleição, da soberania de Deus para a vida dos salvos; mas por outro lado, outros crentes, principalmente os apologistas dariam muito valor ao livre-arbítrio, porque na cultura grega e romana havia muita noção do determinismo dos deuses, mas agora você tem o poder de vencer esse determinismo das potestades; e agora você tem como escolher a Jesus. Nesse contexto, há uma posição bem ambígua da igreja em geral.
Alguns Pais diziam o seguinte: o ser humano dava o primeiro passo por meio do seu livre-arbítrio, e em seguida o Espírito Santo vem pra cooperar e agir com o livre-arbítrio e levar a pessoa a abraçar a Jesus Cristo. Outros Pais diriam que o Espírito Santo ilumina a razão, a pessoa é desperta para a sua escravidão do pecado, e aí ela usa seu livre-arbítrio para ir à direção de Deus. Agostinho, no início da sua caminhada na fé tinha essas mesmas ambiguidades em mente em relação a criação, igualmente aos Pais que vieram antes dele.
A controvérsia que Agostinho vai participar é com um homem chamado Pelágio. Pelágio tentou colocar toda a responsabilidade da moralidade no ser humano. Seu ensino pode ser baseado em quatro pontos principais:
· Não há nenhuma ligação entre o nosso pecado e o pecado de Adão, ou seja, ele nega o Pecado Original. Adão é apenas um exemplo do que acontece conosco se escolhermos desobedecermos a Deus.
· A ação de Deus é reativa, ou seja, Deus escolhe baseado na previsão de fé e obras. Deus antevendo que a pessoa escolheu a Ele, então Deus tem você como um eleito, como um escolhido.
· A graça já foi dada, na lei; o que Cristo veio fazer foi inaugurar uma nova lei, e toda a graça está contida nessa lei. Quando eu abraço a Cristo, e me empenho em obedecer a essa lei, e ajo para obedecer a essa lei, então eu sou contado como um cristão.
· Nós podemos cair da graça, e em alguns casos de forma irremissível. Quando você deixa de se empenhar na lei você pode cair irremediavelmente e ser contado agora como um reprovado.
Agostinho, em contraposição de Pelágio, tem uma ideia totalmente diferente da de Pelágio. Alguns pontos da teologia de Agostinho sobre essa controvérsia:
· A humanidade foi criada boa, em Adão, mas a partir da queda de Adão o pecado se espalha por todo gênero humano. Há uma ligação entre o pecado de Adão e o nosso.
· Deus não escolhe baseado nas nossas ações, não escolhe baseado em nada do que fazemos. Ele escolhe os piores pecados para a Sua glória.
· A graça irresistível. Significa que o Espírito Santo vem com poder sobre o eleito, abre os olhos dele, amolece seu coração de pedra; daí o eleito ver o Cristo crucificado e reconhece sua própria miserabilidade e ver que precisa dEsse Cristo. A beleza de Cristo se torna irresistível para os eleitos.
· Não é possível cairmos da graça, pois Deus guarda os Seus até o fim. A salvação não depende de nós, depende de Deus.
No início da Idade média, o pensamento de Agostinho começa a ser modificado. O ponto que mais prevaleceu foi o primeiro, que fala sobre a depravação humana, mas todos os outros três pontos foram modificados. Agora a noção é que a graça é mediada pela igreja, e você precisa ir e permanecer na igreja; não apenas para receber graça, mas para receber o dom da perseverança, ou seja, a perseverança está desconectada do chamado, o que é totalmente contrário à doutrina da graça.
Na igreja primitiva cria-se como sacramento batismo, a ceia e a confissão de pecados. Mas na idade média começou-se a surgir os sete sacramentos que são defendidos até hoje no catecismo católico. Batismo de infantes (porta de entrada na igreja, e o Espírito Santo é derramado no batismo, ou seja, quando o infante é batizado o Espírito Santo já derramado nele), crisma (confirmação da fé diante da igreja), confissão (o fiel deve constantemente está voltando à igreja pra receber a absorção que vem do ministro), penitência, casamento, ordem (opção de se tornar um monge ou uma freira, e esse é um sacramento extra), e por fim a extrema unção.
Com o surgimento de vários sacramentos novos e com toda a bagunça que estava acontecendo na igreja católica (venda de indulgências) é que entra Calvino, Lutero e Zuínglio. Esses homens se unem para resgatar a doutrina da graça.
Nada de novo foi descoberto na reforma. Nem Lutero, nem Calvino, nem Zuínglio; nenhum deles inventou nada de novo. Apenas redescobriram a doutrina da graça, que foi bem desenvolvida por Agostinho. Para Calvino, o centro de tudo é o sacerdócio de Cristo, só ele é o mediador.
Depois de cem anos da reforma vai surgir uma controvérsia dentro da igreja holandesa; É o que conhecemos de O Sínodo de Dort. Na tentativa de fazer uma teologia que fecha "todas as lacunas" alguns teólogos começaram a se aproximar perigosamente da noção de afirmar que Deus determinaria o mal. Portanto, Jacubus Arminios, na tentativa de "salvar" o calvinismo dessa influencia de pensamentos perigosos ele faz alguns pontos da sua teologia, que ficou conhecida como teologia dos remonstrantes. Arminius acreditava que a morte de Cristo não é uma morte substitutiva, penal. Ele abraça a teoria da morte governamental de Cristo (significa que Cristo morre na cruz pra mostrar que Deus mantém seu governo moral sobre o universo). A morte de Cristo não muda nada a relação de Deus com o pecador. Ele não deixa claro se o crente fica firme até o fim ou se cairia da graça. Diante disso, seus discípulos elaboram os cinco pontos dos remonstrantes:
· O pecado não afeta o livre-arbítrio.
· A eleição é baseada na presciência divina.
· A graça pode ser resistida.
· A morte de Cristo é por todos e para todos.
· O crente pode cair da graça se não perseverar nos comandos dados pelo próprio Jesus Cristo.
Em contraposição aos remonstrantes formou-se os Cânones de Dort, vulgarmente conhecido como os cinco pontos do calvinismo. Eles são:
· Depravação total, ou seja, todas as áreas da vida humana estão afetadas pelo pecado.
· Graça irresistível
· Eleição incondicional
· Expiação particular, ou seja, Cristo morreu pelo Seu povo.
· Perseverança dos santos, ou seja, Deus irá guiar os Seus no caminho da santidade até a morte.
Karl Barth tentou superar a briga entre calvinistas e arminianos. A sua teologia era radicalmente cristocêntrica. Ele entendia que Cristo é o ponto de união entre todos os ensinos cristãos. Dentre outros pontos, ele não tinha um ponto sobre o inferno; ele era um pouco ambíguo quanto a esse assunto, mas o que fica subtendido da sua posição é que a sua visão de predestinação conduz ao universalismo.
IGREJA E O ESTADO
Dentre todos os debates que já existiram, um dos mais importantes que houve foi justamente o da Igreja. A igreja era dividida da seguinte forma: um bispo, que era auxiliado por presbíteros (também pregavam e ensinavam), e os diáconos (ajudavam na parte de ação social, cuidando dos órfãos, viúvas e necessitados e trabalhando na área do exorcismo); mais ou menos essa era a estrutura da igreja primitiva.
Durante os primeiros 300 anos da cristandade o relacionamento da igreja com o estado foi uma relação de conflito intenso. Ninguém era poupado. Após toda essa confusão, Constantino "se converte" e torna o cristianismo a religião oficial do estado. A partir daí, a igreja está debaixo da autoridade do governo. E isso gera bastante confusão, mas esse é o modelo que vai ser determinante em quase toda a idade média, ou seja, essas duas esferas (estado e igreja), lado a lado, ambas as esferas debaixo de uma autoridade maior; no caso aqui do rei e do governante. No ocidente latino, esse modelo vai ser o padrão até o VI, VII séc.; é o modelo que vai ser usado pela igreja ortodoxa até o dia de hoje (ortodoxa grega, russa); modelo presente na igreja episcopal também.
Com o advento do papado as relações vão mudar. Observe que a ideia é quase a mesma, mas o chefe muda, o cabeça muda. Antes era o governante, ou rei, agora o comandante é o papa; ele é o líder da igreja e do estado.
Com a reforma a cristandade é fraturada. A tradição luterana oferece uma tensão onde: de um lado os reis e os governantes eles têm autoridade sobre o estado e a igreja; doutro lado os concílios bispos também tem autoridade sobre a igreja. Esse é o modelo da tradição luterana. Eles também acreditam que a igreja é um ramo do estado.
As tradições anabatistas e batistas. Os anabatistas entram em conflito tanto com os luteranos como com os reformados, e o que os anabatistas privilegiam é uma separação radical entre igreja e estado; são completamente separados. O estado é governado por reis e governantes que governam os cristãos. Doutro lado a igreja é dirigida por presbíteros e pela congregação. Já os batistas entendem que Deus estabelece o estado e a igreja; entendem que os cristãos podem servir ao estado, interagir com o estado, porém são estancias diferentes.
A tradição reformada acredita que a igreja e o estado são ordenados por Deus, só que quem dirige a igreja são sínodos e presbíteros; e quem dirige o estado é o rei ou os governantes. A igreja coopera com estado naquilo que o estado faz bem, doutro lado o estado coopera com a igreja na proclamação da Palavra; isso tudo foi antes de Calvino. Quem veio depois mudou: agora o papel do estado é garantir não a uniformidade do culto, mas a liberdade de reunião de culto. Quem veio depois elaborou também não só um conceito de resistência ao estado, mas também o direito de matar um rei que seja um tirano. Quais as três etapas da resistência contra o estado:
1. Se o estado toma uma medida que seja contrária a Sagradas Escrituras, que é o juiz último, o crente tem o direito de fazer um pleito e exigir uma resposta clara ao seu pleito por parte dos magistrados.
2. Se o pleito não é satisfatório ao cristão, esse tem a opção de se mudar.
3. Recorrendo aos chamados magistrados superiores, o cristão pode ser reunir como milícia, constituir uma força armada e se rebelar contra o estado.
Que o Senhor nos dê sabedoria para aprender com o nosso passado e fazer o que é correto hoje. Soli Deo Gloria!
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