Por Danyllo Gomes
O Sínodo de Dort, com duração de 5 a 6 meses, ocorreu em 13 de Novembro de 1618. Foi considerado o maior dentre todos. Foi local de grandes controvérsias e confusões e da formulação de uma dos melhores documentos calvinistas. Philip Schaff escreveu: “A controvérsia arminiana é a mais importante que ocorreu dentro da Igreja Reformada”. Remonstrantes de um lado defendendo o arminianismo, posição defendida por Jacobus Arminius; e doutro lado os calvinistas holandeses, defendendo a posição calvinista. É importante salientar que este Sínodo só definiu no que diz respeito à soterologia.
Essa controvérsia iniciou-se dentro mesmo da Igreja Holandesa. Uma das principais discursões que levaram a essa discursão foi toda aquela ideia de “quem foi que criou o mal?”, e aí entra toda aquela discursão de supralapsarianismo e infralapsarianismo (não entrarei em detalhes quanto a essas posições).
Após a morte de Armínio, Johannes Uitenboard e Simon Episcopius passaram a liderar o pensamento arminiano. Os arminianos em 1610 se reuniram e elaboraram um documento que feria o símbolo de fé da Igreja Holandesa, a qual eles tinham jurado lealdade. Neste documento estavam 5 artigos que o arminianismo discordava com o calvinismo (posição defendida pela Igreja Holandesa), e esses 5 artigos se tornaram sua doutrina, eles são:
1. A eleição está condicionada à precisão da fé
2. Expiação universal (Cristo morreu por todos os homens e por cada homem, de forma que ele conquistou reconciliação e perdão para todos por sua morte na cruz, mas só os que exercem a fé podem gozar desse benefício).
è Creio que essa posição não encarava com a devida seriedade o que Cristo fez na cruz. Cristo abriu a possibilidade de salvação no calvário, ou Cristo de fato morreu para salvar mulheres e homens pecadores? O que ele fez de fato no calvário?
3. Desnecessária a regeneração para que alguém seja salvo (aparentemente, uma visão perfeitamente ortodoxa, mas mais tarde ficou claro que a visão deles era tal que negava fortemente a depravação da natureza humana).
4. A possibilidade de resistir à graça.
5. A incerteza quanto à perseverança dos crentes (mais tarde eles deixaram claro que não criam de forma alguma na garantia da perseverança).
Em resposta aos remonstrantes, de posição arminiana, os calvinistas em 1611 responderam com uma reafirmação da doutrina calvinista e por isso ficaram conhecidos como os contra-remonstrantes.
Essa reafirmação da doutrina calvinista foi elaborada e o nome dado a esse documento é o que chamamos de Os Cânones de Dort. A estrutura dos Cânones de Dort é bem interessante, ela tem 93 artigos, separados em 5 pontos, e cada vez que um ponto é tratado ao final dele é mostrado os erros dos remonstrantes.
Os pontos elaborados nos Cânones foram os pontos que ficaram conhecidos como os 5 pontos do Calvinismo. Conhecida como TULIP, os 5 pontos do calvinismo é de suma importância dentro da igreja reformada (importante sabermos que os 5 pontos não são uma exposição completa da doutrina reformada). 5 verdades bíblicas que devemos abraçar e entender, elas são:
1. Total depravação (Sl 51; Rm 3:9-20; Ef 2:1-3; Sl 58:3)
Esse ponto explica o fato de que o ser humano é um ser totalmente depravado, totalmente pecaminoso. Todas as esferas da humanidade estão manchadas pelo pecado, logo somo incapazes por nós mesmos de chegarmos a Deus (Jo 3:5-7), precisamos de alguém para se interpor entre nós e Deus. O homem não tem poder de tomar decisões contra sua natureza. Somente através de Deus, do Seu Espírito é que a escama de nossos olhos para o evangelho pode ser retirada (Cl 2:13). Esse ponto é tratado em duas esferas: o pecado original (condenação em Adão) e o particular (nossos próprios pecados). Pecamos porque somos pecadores, e não somos pecadores porque pecamos. Fico com a declaração de Edwin Palmer:
“É Deus sozinho o autor da salvação ou também a fé? Deus contribui com o sacrifício substituinte de Cristo e o homem contribui com a sua fé? Ou a fé é também um dom de Deus (Efésios 2:8)? A salvação depende parte de Deus (a entrega de Cristo na cruz) ou totalmente de Deus (a entrega de Cristo na cruz para morrer por nós além de nos dar a nossa fé)? O homem mantém um pouquinho da glória para si mesmo – a capacidade de acreditar? Ou toda a glória vai para Deus? O ensinamento da depravação total é que Deus leva toda a glória e o homem nenhuma.”
2. Uma eleição incondicional (Rm 9:6-26; Ef 1:6-14)
Deus tem um povo escolhido para receber a salvação dada através de Cristo. Esse é o objetivo desse ponto. Na eleição incondicional podemos pontuar algumas coisas que são essenciais de sabermos sobre ela. Primeiro, devemos ter consciência que a eleição é uma expressão da livre vontade de Deus, e se isso fosse mentira onde estaria a soberania de Deus? A livre vontade estaria no homem? Segundo, a eleição é imutável, ela não muda. Deus escolheu seu povo antes da fundação do mundo, e é o mesmo povo hoje e o será por toda a eternidade. Isso torna a salvação segura e certa. Terceiro, a eleição é dada na eternidade, por isso ela não pode ser ligada a nenhuma ação humana. Não é possível ser por presciência, e sim pelo beneplácito de Sua vontade. Quarto, essa eleição é incondicional, não depende de obras, nem da fé, mas da bondade de Deus, pois até a fé que temos foi dada por Ele. Tudo depende de Deus, glória a Ele em tudo! Nada que façamos pode nos fazer merecer o amor de Deus, somente a Sua misericórdia pode nos alcançar.
3. Limitada expiação (Ef 5:25-27,32)
Cristo morreu por pecadores definidos, Ele morreu pelos eleitos. Uma verdade que se for deturpada abrange várias áreas sérias do cristianismo. A morte de Cristo foi substitutiva, ele tomou o lugar que deveria ser nosso (Atos 20:28), ele adquiriu a igreja com Seu sangue; diferente do erro arminiano de acreditar que Ele abriu possibilidade de salvação. No verso 25b do texto de Efésios vemos que o texto especifica que Cristo amou A IGREJA e se entregou POR ELA, e não por todos. O erro mais comum de interpretar esse ponto é o fato dos leitores pensarem que o termo “limitado” significa que estaríamos limitando o poder do sacrifício de Cristo na cruz, mas na verdade esse termo significa apenas que a morte de Cristo foi por uma quantidade de pessoas definida, limitada. O texto de Efésios 5:25-27,32 e Romanos 3:23-26 nos diz alguns fatos que acontecem com as pessoas por quem Cristo morreu. Irei tratar esses quatro pontos aqui e depois falar com a consequência de acreditar que Cristo morreu por todos. As pessoas por que Cristo morreu são:
· Declaradas justas, justificadas. O texto afirma que Cristo JUSTIFICA, e não que ele abre possibilidade de alguém ser justificado. O erro de se pensar que Cristo morreu por todos é que se Ele morreu por todos, então todos são justificados, porque o texto diz que as pessoas por quem Ele morreu são justificadas com Sua morte na cruz. Dessa forma estaríamos afirmando a salvação universal.
· Redimidos. Cristo pagou o preço que nós deveríamos pagar. Se pensarmos que ele morreu por todos vamos acreditar que ele pagou o preço de todos, e dessa forma todos seriam salvos.
· A morte de Cristo foi PROPICIAÇÃO pelos nossos pecados. Ela é expiatória, foi em lugar de pecadores. Isso significa que quando Cristo morreu na cruz a ira de Deus que estavam sobre os Seus foi removida. Se pensarmos de outro jeito teremos que acreditar que a ira de Deus foi removida de todas as pessoas, logo todas as pessoas estão salvas.
· Reconciliadas com Deus. Somo filhos de Deus, coerdeiros com Cristo. Mais uma vez, se pensarmos que Cristo morreu por todos, todos estavam reconciliados com Deus.
Interessante que sempre que levamos esses pontos para a crença de que isso aconteceu com todos vemos que sempre vai terminar na crença da salvação universal. A verdade é que Cristo morreu por pecadores, sim os piores pecadores; e não por todos.
4. Irresistível graça
Antes de tudo devemos entender a regeneração. A regeneração é uma ação do Espírito Santo que nos torna capazes de chegar à fé. Como somos totalmente depravados, por nós mesmos não temos condições de olhar para Deus e ver Sua beleza. Se chegarmos à fé, é porque o Espírito Santo nos mostrou o quanto éramos miseráveis. Piper diz: “A doutrina da graça irresistível não significa que toda influencia do Espírito Santo não pode ser resistida. Significa que o Espírito Santo pode sobrepujar toda resistência e tornar sua influencia irresistível.” Mas o ponto é: para nós chegarmos à fé precisamos saber sobre ela. E é por causa desse motivo que Deus ordena a Sua igreja para pregar o evangelho, porque é através do evangelho que as pessoas vão conhecer o amor de Deus. Dividimos essa chamada em dois pontos, eles são:
· Chamada Geral (Mateus 11: 25-30). Essa chamada é a chamada que é feita a todos os homens. Homens ricos e pobres, brancos e negros, de toda raça, língua e nação. Essa chamada é feita através da pregação. Nós devemos pregar a todo homem e mulher. Segundo Paulo em 2 Coríntios 2: 14-16, a pregação pode ter dois resultados: ou o quebrantamento do coração das pessoas, ou o endurecimento.
· Chamada eficaz ou individual (Efésios 2: 1-10). Essa chamada é feita no coração dos eleitos através da ação do Espírito Santo em sua vida. Deus cuida dos Seus pessoalmente, ele chama cada um pelo nome, ele também age em cada um individualmente.
Devemos ter em mente que o Espírito Santo é que nos auxilia em tudo. Não somos nada, nada. O Espírito Santo sempre age em nossas vidas, em todas as áreas sem exceção. É Deus que concede arrependimento e a remissão de pecados ao Seu povo (Atos 5:31; 11:18; 13:48; 16:14; 18:27). Não fazemos nada sem a ajuda do Espírito Santo.
A pergunta 31 do Breve Catecismo de Westminster nos mostra resumidamente e verdadeiramente o que é a chamada eficaz:
Que é vocação eficaz?
R. Vocação eficaz é a obra do Espírito Santo, pela qual, convencendo-nos do nosso pecado, e da nossa miséria, iluminando nossos entendimentos pelo conhecimento de Cristo, e renovando a nossa vontade, nos persuade e habilita a abraçar Jesus Cristo, que nos é oferecido de graça no Evangelho.
Ref. 1Ts 2.13; At 2.37; 26.18; Ez 36.25-27; 2Tm 1.9; Fp 2.13; Jo 6.37, 44-45.
5. Perseverança dos santos (Fl 1:6)
Antes de entendermos o ponto da perseverança dos santos devemos ter em mente algumas coisas sobre santidade. A perseverança dos santos não pode ser desligada da doutrina da santificação de maneira nenhuma.
Santificação (Rm 6::3-6; Gl 5:16-18): Quando somos regenerados nossa natureza muda. Deixamos a natureza pecaminosa e somos colocados como santos, e o batismo simboliza exatamente isso: a nossa morte para a natureza pecaminosa e a vida para Cristo. Portanto o batismo é a profissão de fé do cristão (não é o levantar de mãos ou nenhuma ação do tipo). Por outro lado o fato de nós já sermos considerados santos não implica na imobilização de nossa parte. Podemos pensar: “Deus faz tudo, eu não faço nada. Então não vou trabalhar pela minha santificação.” Mas a questão é: como isso pode acontecer se a minha natureza já é diferente? O Espírito Santo infundi as virtudes do fruto do Espírito em nós, pois agora temos outra natureza. Tudo isso nos empurra para a doutrina da perseverança dos santos.
Perseverança dos santos (Hb 13:5b): Segundo Fl 1:6 Deus vai aperfeiçoar a obra que ele começou, e essa obra é a santificação. Como vamos conseguir continuar santos por nós mesmos, sem a ajuda de Deus? Não é possível. E isso nos leva ao primeiro ponto:
· O próprio Deus é quem sustenta seus eleitos dia após dia; não é possível alguém verdadeiramente regenerado perder sua salvação. Justificado uma vez, sempre justificado.
· Sabemos que somos eleitos porque perseveramos na santidade, buscamos a salvação (2 Pedro 1:10-11)
· Essa doutrina nos empurra para a glorificação (Rm 8:29-30). [vemos no final do verso 30]
A perseverança dos santos não está nas mãos deles mesmos, mas na mão de Deus. Deus é imutável, ele não vai mudar sua opinião nem o seu querer. Se ele afirma que os eleitos vão perseverar até o fim, assim o será. Vamos ter plena confiança no nosso Deus e dar graças a Ele porque isso não depende de nós.
*[TULIP]*
"O entendimento da depravação total é o ponto final na arrogância típica da nossa raça."
Soli Deo Gloria