sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Graça Irresistível

Por Danyllo Gomes

Nenhuma doutrina é tão bem planejada para preservar o homem do pecado quanto a doutrina da graça de Deus – Charles Spurgeon

Antes de tudo, é importante saber o que se entende por “graça irresistível”. Existem pessoas – equivocadas – que acreditam que essa “graça irresistível” é como se Deus não desse outra escolha e as obrigasse, mesmo contra a vontade delas, ao arrependimento. No entanto, graça irresistível não significa isso. Graça Irresistível significa que Deus, através da Sua graça, retira as escamas dos nossos olhos, retira os tampões dos nossos ouvidos, e assim conseguimos ver a maravilhosa, excelente, excelsa, magnífica graça e também o amor de Deus, e podemos ouvir o maravilhoso evangelho do Seu filho, a saber, Jesus Cristo. E desse modo, não temos outra escolha a não ser abraçar esse Deus que é maravilhoso, e agora viver para sempre o glorificando. Isso é o que significa graça irresistível.

                Como bem sabemos, Deus é soberano e nada foge da Sua vontade. Esse é o outro princípio ao qual a graça irresistível está atrelada. “Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz” é o que diz o Salmo115:3. Quando Deus, na Sua soberana vontade, decide cumprir algo, ninguém pode resisti-lo. Ninguém pode mudar ou resistir aos decretos de Deus. A doutrina da depravação total é absolutamente necessária à graça irresistível. Como nós, mortos nos nossos delitos e pecados (Ef 2:5), podemos enxergar a Deus? Não podemos! O ponto de partida é Deus. Deus que precisa sobrepujar a nossa rebelião, como Tito 3:5 diz: “não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo”. Não por nossa justiça, não por nada que tenhamos feito, mas segundo a sua misericórdia nos regenerou pelo Espírito Santo. Sem a Graça irresistível não seria possível enxergarmos a nossa miséria e a graça e misericórdia do Senhor.
               
                Agora você pode estar se perguntando: “Ah, mas onde fica a liberdade do homem para saber se ele quer a Cristo ou não?”, a resposta é: se fossemos usar nossa liberdade para chegar até Deus, nunca chegaríamos. Sempre resistiríamos a Ele. Sabe por quê? Porque o nosso coração está cativo ao pecado, é escravo do pecado e não temos nada que nos faça enxergar algo fora do nosso pecado. O próprio Cristo afirma que as pessoas que vão a Ele são as que o Pai enviar (João 6:44), ou seja, Deus pelo Espírito Santo leva as pessoas a Cristo. A conclusão que tiramos então, é que até a nossa liberdade está corrompida, e é necessário uma intervenção divina para enxergarmos a Deus.
               
            John Piper faz uma ótima análise a respeito deste assunto. 2 Timóteo 2:24-25: “e ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. Piper escreve: “Aqui, como em João 6:65, arrependimento é chamado de dom de Deus. Perceba, ele não está meramente dizendo que a salvação é um dom de Deus. Está dizendo que o pré-requisito para a salvação também é um dom. Quando uma pessoa ouve um pregador chamá-la ao arrependimento, ela pode resistir a esse chamado. Mas se Deus conceder-lhe arrependimento, não poderá resistir porque o dom é a remoção da resistência. Não sentir vontade de se arrepender é o mesmo que resistir ao Espírito Santo. Assim, se Deus concede arrependimento, isso é o mesmo que remover a resistência. Esse é o motivo de chamarmos essa obra de graça irresistível. NOTA: Deveria ser óbvio a partir disso que a graça irresistível nunca implica em Deus forçar-nos a crer contra a nossa vontade, senão teríamos uma contradição de termos. Pelo contrário, a graça irresistível é compatível com a pregação e testemunho que tentam persuadir pessoas a fazer o que é racional e o que irá de acordo com  seus melhores interesses.” [1]

              Quando tratamos de evangelismo e salvação, temos a consciência de que é necessário uma “chamada” (1 Coríntios 1:23-24). Entretanto, essa chamada tem dois lados: a chamada geral e a eficaz. Quando falamos da chamada geral, é a chamada que diz respeito à proclamação do evangelho no mundo. Paulo em Romanos 10:14 diz: “Como pois invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não há quem pregue?”. Em toda a Bíblia vemos a necessidade da pregação do evangelho para as pessoas (Mateus 11:28; 22:14); esse é um lado do chamado. Porém, existe o outro lado, que é nomeado de chamada eficaz. A chamada eficaz diz respeito ao momento ao qual a proclamação do evangelho faz efeito no ouvinte. É a consciência sendo tomada pela miséria humana e reconhecendo a necessidade de se voltar para Deus. A chamada eficaz é uma ação interna que Deus faz no coração do homem caído. Romanos 8:30 afirma: “e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. Ou seja, aqueles aos quais Deus predestinou, na eternidade ele os chama, mas esse chamado é interno, e não apenas externo. Aqueles que são chamados, consequentemente são justificados, e consequentemente são glorificados. Portanto, é óbvio acreditarmos que esse chamado ao qual o texto de Romanos se refere é ao chamado da salvação. Essa chamada eficaz é operada no coração do homem para o novo nascimento. A Confissão de Fé de Westminster explica da seguinte forma: “aprouve Ele [Deus], no tempo por Ele determinado e aceito, chamar eficazmente, por Sua Palavra e por Seu Espírito, daquele estado de pecado e de morte, em que estão por natureza, à graça e salvação por meio de Jesus Cristo; iluminando suas mentes espiritual e salvificamente para entenderem as coisas de Deus; removendo seus corações de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando sua vontade e, por Seu infinito poder, determinando-lhes o que é bom, e eficazmente atraindo-os a Jesus Cristo; mas de tal forma que eles vêm livremente, sendo para isso disposto por Sua graça. (CFW, X, § I)”.

Por fim, é interessante vermos o que John Stott fala a respeito do seguinte versículo: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus” 1 João 5:1. Stott diz: “A combinação do tempo presente (crê) com o particípio (é nascido) é importante. Ela mostra claramente que a fé é a consequência, e não a causa, do novo nascimento. Nossa atividade contínua de crer é o resultado e, portanto; a evidência de nossa experiência passada do novo nascimento, pela qual nos tornamos e permanecemos filhos de Deus.” Concluindo, só temos salvação através da fé, fé é dom de Deus e só a temos porque nascemos de novo, só nascemos de novo porque a graça de Deus é irresistível.

Soli Deo Gloria.