Antes de entrarmos diretamente no
assunto preciso dar algumas explicações. Dentre tantos assuntos que eu poderia
abordar, por que eu escolhi A Trindade? A principal razão de ter escolhido esse
assunto é o fato dessa doutrina hoje estar sofrendo vários ataques. Uma
doutrina que não importa quanto a estudemos, nunca vamos compreendê-la
totalmente, o que devemos fazer é apenas nos curvar a ela e reconhecer a sua
importância. Nós somos criação, somos seres humanos e por isso, nossa mente é
limitada. Não conseguimos compreender algo que é acima de nós, algo que a nossa
razão não consegue explicar.
O que desejo
fazer nesse trabalho é um apanhado geral sobre a doutrina da trindade da melhor
forma possível. Vamos ver algumas visões de outras religiões quanto à trindade,
e assim por diante. Tentarei expor da mais simples até a mais complexa
explicação desta tão importante doutrina para que isso fique claro tanto na
minha quanto na sua mente. Se errarmos na crença dessa doutrina, vamos está
adorando a qualquer outro Deus, menos o da Bíblia.
Concepções
erradas sobre a Trindade
Animismo e as religiões antigas
O deus dos
Egípcios antigos emergiu de um ser impessoal (Nun) que é considerado a realidade última. Não há diferença entre
criação e criador, pois os dois compartilham da mesma realidade. Temos como
exemplo o deus Rá. Esse foi o primeiro Deus que emanou do Nun, porém existiram mais que esse. Por esse motivo a religião
Egípcia era politeísta.
Eles tinham
o costume de agrupar os deuses, e normalmente em tríades. O mais conhecido é a
Tríade de Osíris, Ísis e Hórus. Porém, apesar de ser tríade, não há nenhum
entendimento, mesmo que mínimo, sobre a Trindade. Elas eram totalmente
separadas, não havia uma essência só (como é o caso da Trindade).
As religiões
que eram baseadas no Animismo tinham seus deuses sempre em personificação com
os elementos da natureza. Isso se deve a ideia que a criação e o criador são um
só.
Panteísmo
O Animismo
passou para o panteísmo, o que já era esperado por causa da mistura entre o
divino e o criado. A crença do panteísmo é que a divindade é tudo o que foi
criado. Tudo faz parte dessa divindade, e ela engloba tudo. Tudo no universo é
reduzido a uma unidade só, a divindade. Afirmam que é um ser supremo e impessoal,
apesar de poder existir espíritos menores. Dessa forma, o próprio ser humano é
divinizado, já que tudo é divino, e evidentemente o ser humano está presente. Como
exemplo de fortes religiões panteístas estão: a Nova Era e o espiritismo
kardecista.
Como
exemplo, o espiritismo acredita que há um único ser que engloba tudo.
Interessante notar que o próprio Kardec diz que o espiritismo não ensina o
panteísmo. Ele afirma que existe apenas uma divindade, mas diz que não sabe ao
certo o que Deus é. Porém, o sistema que Kardec utiliza para falar de Deus é um
sistema que não faz distinção entre criação e criador. No ensino de Kardec a
matéria é má, corrompida e etc. e o espírito é puro (a divindade) representa
paz, bem e amor perfeito. Entre os dois existe uma espécie de “ser” que vai
evoluindo através das reencarnações, onde a cada passo dado uma hierarquia
acima é alcançada pelo espírito, até que chegue a divindade. O objetivo é se
libertar da matéria que é má e tornar-se divino. Claramente esse ensinamento
nega a trindade pelo fato de considerarem que o próprio Jesus não era Deus.
Jesus, para os espíritas, era apenas um espírito muito evoluído. Desse modo a
Trindade já é negada nesse ensino.
Politeísmo
A principal
diferença entre os panteístas e os politeístas é que: o panteísmo enfatiza a unidade
(o uno), o politeísmo, por sua vez, enfatizam a diversidade do ser (o
múltiplo). Como exemplo tem o hinduísmo, que é tanto hinduísta como politeísta.
O que acontece é que Brahma é um ser supremo e impessoal, porém existem outros
espíritos que emanam dele, e esses espíritos é que são pessoais. Ensino também
totalmente contrário a Trindade Bíblica.
Monoteísmo não-trinitário
O Islamismo
e as testemunhas de Jeová acreditam num tipo diferente de monoteísmo. No
Islamismo o principal conceito é a unicidade de Deus. A idolatria é altamente
condenada e a possibilidade de Deus ter um filho é uma blasfêmia. Não é a toa
que Maomé é denominado de profeta, e não filho de Alá. O Alcorão nega
explicitamente a doutrina da Trindade. Maomé diz que a doutrina cristã ensina
que existem três deuses: Deus o Pai, Jesus e Maria; por isso os mulçumanos
acusam os cristãos de politeísmo. Na concepção de Maomé a natureza de Deus
(Alá) nunca poderia se unir a natureza humana, por esse motivo Jesus é
considerado apenas um profeta.
Do mesmo
modo as testemunhas de Jeová acreditam que há um só Deus, e negam veementemente
as três pessoas da trindade. Acreditam que Cristo é um ser criado e finito, e
não um ser eterno. O Espírito Santo para eles não é um ser pessoal, mas é uma
força de impessoal. Uma força que Deus se utiliza para realizar seus desejos.
O fato de
Deus ser considerado uma unidade sem distinção nos leva a acreditar que Deus
precisa da criação para realizar seus desejos. Nesse sistema Deus não seria um
ser supremo, mas um ser que necessitaria trabalhar em conjunto com sua criação.
Modalismo ou Sabelianismo
O modalismo
diz que só existe um Deus, porém ele se revela a nós em “formas” diferentes.
Como por exemplo: esse Deus no Antigo Testamento era o Pai, depois desceu dos
céus como Jesus Cristo, e quando Cristo subiu aos céus ele se transformou no
Espírito Santo. Então, como vemos, o modalismo afirma que uma única divindade
se revelou a humanidade de três formas diferentes em momentos diferentes. O
principal erro do modalismo é negar a relação entre os membros da trindade,
pois dessa forma na eternidade Deus não tinha relacionamento e então ele criou
o homem para que tivesse com quem se relacionar. Por isso esse pensamento deve
ser rejeitado. O Deus que é uma só essência e três pessoas é transformado num
único Deus que se mostra de três modos diferentes.
Arianismo
Os arianos
afirmam que Cristo foi criado pelo Deus Pai, e que antes disso nem o Filho nem
o Espírito Santo existia, mas somente o Pai. Então, apesar do filho ser o maior
de toda criação Ele não se iguala ao Pai nos seus atributos e na Sua divindade,
ou seja, não é da mesma natureza do Pai. De acordo com os textos de Jo 1:14;
3:16, 18; 1 Jo 5:9 os arianos afirmavam que por cristo ser chamado o
“unigênito” do Pai, eles acreditavam que por isso Cristo é um ser criado pelo
Pai (a palavra ‘gerar’ na concepção humana significa ‘dar cria’ a um filho).
Outro texto utilizado por ele é Colossences 1:15. De acordo com eles quando o
texto diz “primogênito de toda criação” significa que: implicitamente, quando
alguém é primogênito é porque no momento em que ele foi gerado ele era o
primeiro. Esse princípio vale tanto para o Filho como para o Espírito Santo. A
doutrina Ariana foi rejeitada pelo Concílio de Nicéia, em 325, e mais tarde,
reafirmando a sua falsidade pelo Concílio de Constantinopla, em 381.
Adocianismo
O
adocianismo acredita que Jesus viveu como um homem comum até o seu batismo,
após isso Deus o adotou e lhe concedeu poderes sobrenaturais. Não o veem como
um ser eterno e nem sobrenatural criado por Deus, que era o que os arianos
acreditavam. Mesmo após o batismo eles não consideravam Cristo como verdadeiro
filho de Deus, mas o consideravam como um humano acima dos outros, um humanos
que Deus concedeu poderes e o chamou de “Filho” num sentido em que nenhuma
outra pessoa foi chamada. Nunca foi considerada uma doutrina ortodoxa, pelo
contrário, sempre negou a divindade de Cristo e do Espírito Santo.
O triteísmo
Esse
pensamento nega que só existe um único Deus. Acreditam que cada pessoa da
trindade é um Deus específico, portanto, na concepção deles existem três
deuses.
CONCEPÇÃO
CORRETA SOBRE TRINDADE
Pode ser usado um termo para
a trindade que é chamado de Trindade Ontológica (significa que a trindade é
considerada em si mesma, em sua eternidade e comunhão completa entre o Pai, o
Filho e o Espírito Santo. Durante toda a Bíblia vemos que Deus não é um ser
subordinado ao ser impessoal de um ambiente maior que Ele próprio. A Teologia
Sistemática de Franklin Ferreira faz uma ótima descrição: “... a expressão
‘autocontido’ descreve um elemento essencial para entender a natureza de Deus.
A realidade derradeira não é o ‘ser’ ou a ‘existência’ abstrata, mas sim a
trindade, o uno e o múltiplo divino, dinâmico, vivo e pessoal.” Portanto, é de
suma importante entendermos essa doutrina divina da maneira correta, para que
possamos adorar ao Deus verdadeiro, e não um criado por nós mesmos. Veremos os
três “aspectos” da trindade: a unidade, a diversidade e o “conjunto”.
A unidade de Deus
A unidade da
trindade tem que ser colocado em primeiro plano, porque ela é a base para a
essência das outras pessoas e porque ela exclui qualquer forma de subordinação,
sendo dessa forma uno. O que as Escrituras afirmam para uma pessoa, é afirmada
para outra também. O Deus verdadeiro e único não é apenas o Pai, mas também o
Filho e o Espírito Santo.
Como tudo
que for falado a respeito da trindade pertence à natureza divina, então tudo
que for falado tem que ser no singular, pois é apenas uma pessoa. Cada uma das
três pessoas (como diz o credo de Atanásio) é incriada, infinita, onipotente e
eterna; não há três incriados, onipotentes e eternos, mas apenas um.
A trindade
possui uma vontade única e uma ação única e indivisível. As três pessoas atuam
com um único princípio; e como são inseparáveis atuam inseparavelmente.
Portanto, apesar de serem pessoas diferentes elas agem inseparavelmente, com o
mesmo propósito.
É óbvia e
visível a dificuldade que vemos nesses pensamentos em diferenciar as pessoas
individualmente. Porém como exemplo temos o fato de Cristo. Apesar de ter sido
Cristo que morreu, ressuscitou, encarnou, O Deus Pai cooperou igualmente na
realização da morte, ressureição e encarnação.
A diversidade de Deus
A distinção
das pessoas da trindade é por causa da relação mútua entre elas. Apesar de ser
considerada apenas uma essência divina, o Pai é diferente do Filho por gerar o
Filho, e o Filho é diferente do Pai por ser Filho gerado. Uma ótima descrição
para entendermos esse ponto:
“Com respeito às relações mútuas
da Trindade, se aquele que gerou é princípio do gerado, o Pai é princípio em
referencia ao Filho, porque o gerou. Entretanto não é uma investigação de pouca
importância inquirir se o Pai é também princípio com relação ao Espírito Santo,
pois está escrito: procede do Pai. Se assim for, é princípio não somente do que
gera ou faz (o Filho), mas também da Pessoa que ele dá (o Espírito). Isso
lançaria uma possível luz sobre a questão que a muitos preocupa, sobre a
possibilidade de dizer-se que o Espírito Santo também seja Filho, já que sai do
Pai, como se lê no Evangelho (Jo 15:26). Saiu do Pai, sim, mas não como
nascido, mas como Dom, e por isso, não se pode dizer filho, já que não nasceu
como o Unigênito e nem foi criado como nós, que nascemos para a adoção filial
pela graça de Deus.”
Da mesma
forma o Espírito Santo. Ele se distingue tanto do Pai como do Filho. As três
(pessoas da trindade) tem uma relação real e subsistente, mútua entre elas
mesmas. Agostinho descreve perfeitamente o Espírito Santo:
“Não há, pois, senão um bem
simples, e, consequentemente, senão um bem imutável – Deus. E este bem criou
todos os bens, que sendo simples, são, portanto, mutáveis. Digo, precisamente,
criou, isto é, fez, e não gerou. É que o que é gerado de um ser simples é
simples como ele é o mesmo que aquele que o gerou. A estes dois seres chamamos
Pai e Filho e um outro com o seu Santo Espírito são um só Deus. A este Espírito
do Pai e do Filho se chama nas Sagradas Escrituras Espírito Santo por uma
espécie de apropriação deste nome. É, porém, distinto do Pai e do Filho, pois
não é nem o Pai nem o Filho. Disse que é ‘distinto’ mas não ‘é outra coisa’,
porque também Ele é igualmente simples, igualmente imutável e co-eterno. E esta
Trindade é um só Deus e não deixa de ser simples por ser Trindade. (...) É por
isso que se chama simples à natureza que nada tem que possa perder; ou é
simples a natureza em que ‘aquele que tem’ se identifica com ‘aquilo que tem’.
[Portanto] chamam-se simples às perfeições que, por excelência e na verdade,
constituem a natureza divina: porque nelas não é a substancia uma coisa e a
qualidade outra coisa.”
Sintetizando:
1) O Pai não é o Filho: Enquanto Jesus estava na terra ele
estava em contato com Deus. Temos a oração de Jesus em João 17 como exemplo.
Cristo se comunica com se Pai, senão Cristo estava falando com quem? Para uma
conversa é necessário duas pessoas.
2) O Filho não é o Espírito Santo: Cristo afirma em João 15:26 que vai
enviar o Espírito Santo aos discípulos. Fica bastante claro que o Espírito
Santo é outra pessoa, distinta de Cristo.
3) O Espírito Santo não é o Pai: João 15:26 diz que o Espírito Santo
vem do pai, então Ele mesmo não pode ser o Pai. No batismo de Jesus o Espírito
Santo desceu dos céus em forma de pomba enquanto o Pai falou dos céus, dentre
outros exemplos.