quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Fervor Sem Conhecimento
Charles Spurgeon
Não aceitem o conceito que o mero fervor sem conhecimento bastará, e que as pessoas hão de ser salvas simplesmente por nosso zelo. Receio que somos mais eficientes em calor que em luz; mas o fogo que não tem luz é de natureza suspeita e não vem de cima. Os pecadores são salvos pela verdade que penetra no entendimento, alcançando assim sua consciência. Como pode o evangelho salvar se não é entendido? O pregador talvez utilize saltos, gritos, golpes e súplicas; porém o Senhor não está no vento nem no fogo; a voz mansa e delicada da verdade é indispensável para penetrar no entendimento e alcançar coração. A congregação deve ser ensinada. Devemos "ir e doutrinar as nações", fazendo discípulos entre elas; e não conheço maneira alguma para salvar os homens senão que os ensinemos e eles aprendam.
Alguns pregadores, embora sabendo muito, ensinam pouco porque usam uma linguagem elevada. Lembremos que nos dirigimos a pessoas que precisam ser orientadas como crianças; mesmo adultos, a maior dos ouvintes está ainda na infância no que concerne às coisas de Deus. Para receberem a verdade, tem de ser apresentada de modo simples, de maneira fácil de assimilar e guardar na memória. Acaso não têm ouvidos sermões que são peças de oratória, e nada mais? Contudo quando termina, o discurso não satisfez a mente, porque a retórica não alegra a alma. É preciso que não façamos da oratório o nosso objetivo. Alguns são eloquentes por natureza, e não lhes é possível ser outro modo, como os rouxinóis não podem evitar de cantar docemente; portanto, não os censuro, mas os admiro. Não é dever do rouxinol baixar a voz ao mesmo tom que o pardal. Que cante com doçura, se o faz naturalmente. Deus merece a melhor oratória, a melhor lógica, a melhor metafísica, o melhor de tudo; entretanto se alguma vez a retórica embaraça a instrução do povo, seja anátema. Que jamais aluma capacidade ou aptidão educacional ou mesmo algum dom natural que possuamos seja estorvo à compreensão do povo naquilo que transmitimos. Que Deus não permita que a nossa erudição ou estilo obscureça a luz; pelo contrário, que sempre usemos a linguagem singela de modo que o evangelho resplandeça livremente em nosso ministério.
Há grande necessidade atual de transmitir luz porque há muitas tentativas ferozes de apagá-la e obscurecê-la. Há muitos que espalham as trevas por toda a parte. Portanto, irmãos, mantenham a luz ardendo em suas igrejas e em seus púlpitos, e ergam-na diante dos homens que amam as trevas porque favorecem seus objetivos. Ensinem à congregação toda a verdade. Há ladrões de ovelhas que rondam à noite, e se conseguem seduzir alguns do nosso povo é porque não conhecem os princípios do cristianismo. Nossos ouvintes têm uma ideia geral das coisas, mas não o suficiente para proteger-se dos enganadores. Estamos rodeados, não apenas dos céticos, mas de certos homens que devoram os fracos. Não deixem que seus filhos sejam privados de um santo conhecimento, pois há sedutores ao redor que tentam desviar os incautos. Começam chamando-os de "queridos" e terminam afastando-os daqueles que os conduziram a Cristo. Se têm de perder algum dos seus ouvintes, que o seja à luz do dia e não por ignorância deles. tais sequestradores deslumbram os olhos débeis com brilho de novidades e transtornam as mentes fracas com descobertas maravilhosas ou doutrinas surpreendentes, as quais tendem à divisão, à amargura e à exaltação da própria seita. Esforcem-se por mantes a luz da verdade ardendo, e os ladrões não se atreverão a saquear as suas casas.
Feliz a igreja de crentes em Jesus que sabem porque crêem nEle. pessoas que crêem na bíblia e conhecem o seu conteúdo; crêem nas doutrinas da graça e conhecem o alcance de tais verdade; sabem onde estão e o que são, e portanto vivem na luz e não podem ser enganadas pelo príncipe das trevas! Lutem, caros irmãos, para que haja muito ensino em seu ministério. Alimentem sempre o rebanho com conhecimento e compreensão, e que a sua mensagem seja sólida, contendo alimento para o faminto, cura o enfermo e luz para os que estão nas trevas.
Revista Os Puritanos, ANO XVI, Nº 4 : 2008, págs.: 28-29.
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